As lições de um sabío monge

Em um lugar bem distante, em um  pedaço de terra que era chamado de reino, onde o tempo ainda nem sabia que iria existir, havia um simples monastério, com apenas um monge em seu interior, os moradores de todo o mundo o visitavam, com a esperança de um dia conseguir a sabedoria e a evolução que este velho monge alcançara. Por muito tempo, vários tentaram se tornar monges, mas os boatos que corriam era que ninguém conseguia passar pelas provas e desafios do antigo monge.

Em um dia bem atípico o sábio monge recebe a visita de três rapazes, os quais ainda não aparentavam muita idade e sim a primeira impressão que passavam, era de estarem em busca de inúmeras aventuras e descobrirem os muitos dos mistérios da vida.
Bem, os três rapazes explicaram ao velho monge que tinham enorme vontade de se tornar monges, e se possível queria começar com os ensinamentos. O velho então lhes explicou que iria fazer com eles três provas, e que ao termino de cada uma, quem quisera desistir de ser monge, aquela seria a hora. Os três rapazes bem animados com a ideia não fizeram cerimonia e logo pediram que o velho monge começasse logo as provas.

Então o velho abriu um lendário papiro e recitou um mantra por diversas vezes, lhes explicando a importância de rezar, sempre agradecer e nunca pedir coisas demasiadas ou infames.

Colocou os três em disposição, e ordenou ao primeiro que trouxesse frutas, mas com uma condição, que não poderiam ser colhidas no terreno do monastério.
Ao segundo ordenou que trouxesse um animal, mas a sua condição foi a de que não poderia ser um animal de quatro patas, mas sim uma ave ou insetos.
Ao terceiro deu uma especia de vazo, e pediu que trouxesse o mesmo cheio de água, e sua condição foi a de que não poderia ser nem a água da cachoeira, nem do rio que beirava o monastério.

Assim, passado pouco tempo chega o primeiro, com uma cesta que contia diversas frutas, passado-se mais alguns instantes chega o segundo com uma ave morta em suas mãos, e algumas horas depois chega o terceiro e ultimo rapaz com o cantil repleto de água.

O monge então indaga o rapaz que chegara com as frutas, como conseguira um cesta tão linda e com frutas tão saborosas tão rápido. Ele então lhe explica, ” Mestre, eu já havia pedido em todas as barracas da velha cidade, mais nenhum dos comerciantes me deu se quer uma fruta, por menor que ela fosse, então em dado momento, decidi pegar essa cesta de fruta que estava em cima de uma banca. Roubei-a para ser mais franco, por isso fui o primeiro a chegar, pois vim desenfreado pela estrada, para que ninguém soubesse que eu me tornaria o próximo monge.”

O sábio então, indaga o segundo rapaz, este que ainda estava com a ave morta em seus braços. ” Foi muito simples, fui até a mata e achei uma lasca de pedra, ao avistar o animal, atirirei-lhe a lasca, ele caiu no chão e trouxe-o até aqui.”

E por fim, pede a explicação ao terceiro rapaz, o  porque demorou tanto em chegar com o cantil cheio de água. ” Sábio monge, eu fiquei com vergonha de pedir um copo de água aos comerciantes e moradores da vila, então me sentei na ponta da bica e fui colhendo gota por gora, até que o vasilhame estivesse repleto de água.”

O sábio então se coloca em posição de meditação, e após algum tempo, lhes explica, ” Olhem, todos os três falharam, o primeiro, não precisaria ter roubado as frutas, pois eu o adiverti que não podia pegar os frutos que estão dentro do monastério, mais no trajeto daqui até a velha cidade, sei muito bem que tem muitas arvores frutíferas, então não precisava ter feito tal ato. O segundo falhou, pois pedi que trouxesse apenas um animal, e não que o matasse, o animal era para que dividíssemos tudo o que tínhamos com parte do universo, e não para comermos ele. E o terceiro demorou por muito, sendo que não podemos ter vergonha por pedir o que realmente necessitamos. Os três ao meu ver já estão reprovados, mas quem realmente quiser continuar, não negarei em passar os outros dois testes.”

Nesse momento o segundo rapaz, o que havia trazido a ave morta, se sente tão mal que sai do monastério, se coloca em um posição de meditação, a mesma feita pelo monge na hora evocação do mantra, coloca o animal em sua frente, e ali permanece.

Os outros dois rapazes muito insistentes decidem ficar, e pedem desculpas ao monge por suas atitudes inadequadas, diante daquele que por varias vezes se mostrou sábio e muito já ajudou a vila em que moravam, assim como as pessoas que o procuravam.

O ancião, colocasse novamente em posição de meditação e recita outro mantra, passando para os dois rapazes que se querem se tornar um monge terão que viver apenas com o que é preciso e nada mais do que isso, sem nenhuma regalia e muito menos alguma mordomia pelo fato de serem monges.

Após isso, se dirigi as seguintes palavras aos dois rapazes, ” Vocês estão vindo de uma longa viagem, e consigo trazem, um balaio com algumas frutas para o plantio em seu monastério, uma jarra de água para o próprio consumo, pois a viagem será por demais longa e precisaram se nutrir de alguma forma, e uma galinha, também para seu monastério. Mas em dado momento se deparam com uma família, que se constituem em um casal, sendo eles homem e mulher de três crianças. O pai de família então lhe pede o que tem carregando com vocês, uma forma de doação, pois as crianças estão a dias sem se alimentar e sua mulher esta por esperar mais um criança. O que vocês fariam?” Questiona o velho monge, dirigindo a pergunta individualmente a cada um.

Antes que rápido, o rapaz que havia “recolhido” as frutas diz, ” Mestre, se vivemos apenas com o que é necessário, não daria nada a eles, pois se eu entregasse tudo a eles, ficaria sem nada e como o senhor comentou a viagem era longa e precisaria me nutrir de algo.”
O segundo rapaz, reflete por alguns instantes sobre ao questionamento, e após isso responde, ” Bem eu dividiria por igual tudo o que trazia, e ensinaria a aquela família como poderiam a partir daqueles frutos fazerem seu próprio sustento.”

Novamente o velho se põe em estado de meditação, e ao retornar da especie de transe em que se colocava, argumenta, ” É verdade que vivemos apenas com o necessário, mas existem pessoas e casos que temos que abrir mão de coisas e bens materiais, para que tenhamos simplesmente uma troca de sentimentos e ações de gratidão que valem muito mais do que uma simples refeição. Existem muitas pessoas que necessitam de um simples abraço, e outras que necessitam de simples palavras de conforto e consolo, mas existem sim pessoas que precisam de alimento, não para a alma ou para a mente, e sim para o corpo físico, como frutos, água ou simplesmente um ovo… Então vocês dois estão reprovados nessa segunda prova, pois a atitude digna e certa de se fazer, seria abrir mão de tudo o que traziam, sejam eles, frutos, água ou animais, a vida de uma pessoa vale muito mais do que qualquer coisa”.
Ao dar por encerrado o sermão ou resposta que os dois esperavam, o rapaz que respondeu de imediato ficou tão envergonhado pela sua resposta e atitude, que pediu perdão por ter respondido sem pensar e ter falado algo tão atroz,  pediu licença e se retirou da sala em que se encontravam e do monastério, vendo que o terceiro rapaz ainda continuava ali parado, lhe falou ” Por sua insistência e perseverança, vou lhe passar o ultimo teste, aonde tantos outros também falharam… Bem venha comigo.”

E assim foram até a ultima sala do monastério. Ao chegarem na sala se encontra três tipos de vestes de monges,uma vermelha de pano fino com um bordado do simbolo do monastério em dourado, uma veste branca com detalhes em seda, mas ao ver parecia meio desconfortável de se usar e uma que era de um pano bem simples, meio velho, inclusive parecia o que o monge usava, só que menos gasta, três tipos de terços budistas ( japamala¹ )  um era de ouro e bem grande, o outro de cristal e um de madeira que este mal daria para usar no pescoço ou em volta do pulso e dois tipo de sandálias, uma de couro e uma outra de corda. O rapaz então escolhe a vesta vermelha com simbolo dourado, o japamala de cristal e a sandália de couro, e logo em seguida o velho monge lhe pergunta o por que escolheu cada utensilio, ele então responde, ” A veste vermelha, e para que todos saibam que eu sou monge, o terço de cristal, é para que em minhas orações e mantras sempre lembre do brilho do universo, e a sandália de couro pois esta é mais confortável. O sábio então lhe adverte novamente, ” Filho eis ai seu erro, você foi orgulhoso e vaidoso em querer mostrar a todos sua posição e nível de evolução, a veste vermelha seria apenas para chamar a atenção, já o japamala não precisa te lembrar do brilho do universo, pois este deve sempre estar em seu interior, e a sandália de cordas iria lhe ajudar em grandes caminhadas, pois este não agride tanto os pés, mesmo não sendo tão bonita como a que usas”.

Após algum tempo do sábio monge estar sozinhos no monastério, se dirige ao por do sol para orar, quando avista o primeiro rapaz que havia saído com a ave morta em seus braços, este que ainda estava em posição de meditação com a ave a sua frente. O monge então se coloca em seu lado e  questiona o por que de estar ali o dia inteiro, o rapaz então com uma voz meio embargada responde ” Mestre, eu percebi a minha falha, e ao me colocar pra fora do monastério vi que o pássaro não havia morrido, apenas estava desacordado. Sentei e meditei, pedi perdão ao universo e aos meus antepassados por ter cometido tal erro com a natureza e disse a mim mesmo que me colocaria em penitencia aqui até a melhora dessa linda ave.”
O sábio monge entende o sentimento do rapaz, e o convida para entrar no monastério, pois este realmente havia entendido o sentido do perdão, da humildade e algumas das leis que regem o universo…

Esse rapaz após alguns anos, se tornou o próximo monge…

 

 

Palavras de um Guardião
Palavras de um Guardião

 

1. Japamala : (Japa = repetição, Mala = cordão ou colar) é um objeto antigo de devoção espiritual, conhecido também como rosário de orações no ocidente. É um artesanato muito utilizado para ajudar nas orações e mentalizações como marcador.

 

 

 

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