Um pedido sincero de perdão

Com os olhos cerrados, ainda sem nem mesmo o sol nascer, ele sonha com um tempo de outrora, onde vê toda e extensão do seu reino,  cheio de cavaleiros, serviçais, arrumadeiras, tanta gente aos seu serviços que era até difícil de contar o número certo de pessoas que passavam por dia em seu castelo. Estamos falando de um rei cuja sua real situação não era bem essa, na verdade vivia em seu castelo hoje abandonado, la mora apenas ele, o vento e seus pensamentos. Em seu reinado não quis se comprometer com nenhuma mulher, nem mesmo ter filhos, pois achava tudo isso desnecessário.
Após ter travado uma guerra que durou mais de três anos, por fim acabou perdendo tudo o que tinha, sua gloria, suas riquezas e seu poder. E a parte de terra que lhe cabia, por misericórdia do novo rei deixou que ele ficasse com ela.

Passou tanto tempo no castelo que nem mesmo ele tinha noção ou ideia a quanto tempo estava confinado naquela imensidão de paredes e rochas, havia passado por vários desafios, como o de aprender a cozinhar, aonde se localizava a cozinha do castelo e como cultivar a própria comida, tinha para ele que era o melhor no que fazia quando rei, mas ao ficar isolado de tudo e de todos se deu conta que de nada sabia,  aprendeu a cultivar alguns legumes e verduras e tinha algumas vacas, que com o tempo tornaram-se grades ouvintes de suas historias.

As vezes sua mente lhe pregava peças, se imaginava ainda com seu reino, na torre mais alta do castelo, falando com todos seus súditos e aqueles que moravam em seu reino, decretando leis, dando o anúncios de grandes festas e datas e serem comemoradas, entre tantas outras tarefas que um rei tinha. Por alguns instantes cerrava os olhos e deixava aquela sensação tomar conta de si, mais novamente ao se ver sozinho, voltava a sua rotina, esta que não era tão difícil nem muito cansativa. Cuidava das vacas, regava a horta, lavava suas roupas apenas quando o cheiro já lhe causava ânsia, comia e por fim dormia.

Após sete anos, em um dia quando pensava em mais nada, pois em todo esse tempo, havia pensado e imaginado tantas coisas que estava já chegando a beira da loucura, ouve um soar na porta do castelo, e um grito chamando alguém que ali morava. Antes que depressa foi ver o que estava ocorrendo. Ao abrir a porta do castelo, o que avista, não é nada mais que um camponês ou lavrador aflito com uma feição de cansaço e desgaste. O rei por ser ainda uma pessoa cordial e cavalheira, convida o camponês para entrar. Ele de certa forma nem sabia direito o que fazer, era tanto tempo sem ver uma pessoa que estava deslumbrado ao ouvir sua voz. O camponês por sua vez estava com uma fisionomia não muito agradável entrou e sentou-se.  No castelo não tinha lugar onde não havia espessas camadas de poeira, pois o forte do rei não era a limpeza. Bem, o rei indaga o rapaz o por que de após ter passado tanto tempo ninguém havia o visitado ou passado pelos arredores do castelo, o rapaz então lhe explica que por ordem do novo rei, o entorno do castelo era tido como uma terra de exílio aos que não obedecessem suas ordens ou algo do gênero. e então o rei fazia perguntas atrás de perguntas, bombardeia o rapaz de tanto que o indagava, o camponês paciente vai aos poucos lhe explicando as mudanças e novas leis do novo rei, que era por sua vez, mais severo e rígido, e tido também com um leve toque de crueldade.

Após horas incansáveis o rei para de se preocupar com o que estava fora da “nova” terra do exílio, e o deixa respirar um pouco, e este fica por certo tempo calado sem nem mesmo respirar, o rei preocupado com a visita ou um possível novo morador o questiona o por que de estar ali, o camponês explica que durante uma disputa por terras, ele acabou por perder a mulher que carregava em seu ventre seu primogênito, e tudo por que nem coragem de ir até a vila ele teve, estava voltando de uma viagem que havia feito até o reino vizinho para vender sua colheita, e ao ver a sua vila pegando fogo, nada conseguiu fazer, a não ser ouvir os gritos e urros dos que longe estavam. Após a tragedia se sentiu tão incapaz e envergonhado que achou por direito colocar-se a caminho da terra do exílio.

O rei se sentiu mal por ter o seu castelo tido como um pedaço de terra insignificante, que servia apenas para abrigar os traidores e covardes. Mas estava tão alegre com a presença de alguém com quem pudesse conversar e que poderia ouvir outra resposta a não ser o das vacas ou do vento, que deixou esse pensamento de lado.

Então passado um ano ou mais, os dois já haviam contados tantas histórias, uns aos outros, que hora algumas até se repetiam, em dado momento o vento soprou de uma forma diferente…
Sentiu-se no ar algo não muito comum por aquelas terras, era o cheiro de um perfume, os dois desenfreados vão até a muralha do castelo avistar o que o vento trazia a eles. Uma mulher, olhando de longe aparentava ter uma idade já avançada, percebiam e ouviam algo como que parecia uma canção. Chamaram de longe a atenção da mulher que vagava pelas terras. Ela que mantinha o olhar fixo em algo que parecia não existir, ou mesmo ela não enxergava. O rei e o camponês então se dirigem em direção a mulher que mesmo longe ouviam que ela falava ou cantava sozinha, para os ventos e para o nada. Quanto mais perto foram chegando, perceberam  que sua voz era linda, e sim, era uma canção. Ao encostarem nela, ela se assusta, estava tão distraída em seu próprio mundo que se desligou de tudo. Os dois ao explicarem para ela aonde se encontrava e o que seria aquela parte do reino, a moça não expressa nenhuma reação de espanto ou nada do gênero. Ela começa a cantarolar uma canção de uma triste história que contava parte de sua vida… Os dois então percebendo que a mulher já não era tão lucida quanto pensavam, se dirigem ao castelo e a moça por mais impossível que parecesse começou a os seguir na trilha de volta.
Já em seu interior alegrava muito aos dois ouvir as canções de “Primavera”, era como a chamavam, pois os dois diziam que sua voz era tão bela que até uma flor desabrocharia se à ouvisse.

Os três se sentiam confortáveis, era esse um conforto bem diferente, pois um rei que não era rei, e se mirava apenas no passado, um homem que se escondia numa terra que não existia com medo de si mesmo, e uma mulher que apenas cantarolava sua triste vida em versos e prosas. Nem mesmo tinham diálogos alem do necessário uns com os outros.

Era chegada a hora do tempo fazer o seu papel mais dolorido e um por um vieram a falecer, o ultimo que restou foi o rei, que novamente ficou sozinho, e desolado.
Sentiu uma forte dor no peito, lembrou de sua vida toda esta que passou diante dos seus olhos, e em um momento de lucidez, imaginou que tudo poderia ser diferente. Não precisaria ter ficado só, podeira ter reconquistado seu reino, ter amado algo que não fosse o poder. Enquanto pensava em seus erros e falhas, uma verdade veio a sua mente, “Tive a vida que realmente escolhi para mim, não culparei ninguém pelos meus defeitos, minhas escolhas fazem e fizeram o que eu sou, só peço perdão a mim mesmo por ter falhado dessa forma e ter dito esses fim.”

Após isso ocorrer, sua mente lhe prega uma ultima peça, onde ainda era um grande rei, tinha família, paz em seu reino e prosperidade, o camponês era seu melhor e mais fiel empregado, e Primavera, era uma cantora de suas festas reais…
O rei então deixa que sua mente continue, e então cerra os olhos pela ultima vez.

 

Palavras de um Guardião
Palavras de um Guardião

 

 

 

 

 

 

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